quarta-feira, 11 de abril de 2012

MISSÃO CUMPRIDA


Mais um conto enviado por José Geraldo de Araújo Castro. 

MISSÃO CUMPRIDA

ELIMAN AMARAL - Ladrão de galinha - Aquarela

Esta estória aconteceu  numa pequena cidade, existente no interior do país. Cidade pequena, de gente amiga e acolhedora. Lá os dias transcorriam bucólicos e calmos. A praça com sua igreja matriz, o armazém do “Zito compra tudo” com seus produtos variados de secos e molhados de frente para a igreja, o barbeiro Onofre da Zinha sentado num banco à porta de seu estabelecimento, na rua principal, que dava acesso à praça, aguardava, amolando a navalha, o freguês. A farmácia do Nozinho, situada à frente, sem nenhum cliente, ficava cheia de gente batendo papo. O prefeito José  Pedreira, o padre Prudêncio, o coronel Epaminondas e o delegado Bonifácio eram companheiros constantes de prosa. A cidade ficava sempre animada, com suas festas religiosas, cheia de barraquinhas, abrilhantada por sua bandinha de música e  por um grupo de congadeiros, tradição do local. Num lugar de poucos recursos, solidariedade não faltava. Laurindo Preto, líder deles, era  casado com D. Maria Cristina, benzedeira afamada do lugar, que ajudava muita gente em suas enfermidades, com suas rezas milagrosas. Laurindo, tropeiro antigo dos tempos idos, estava aposentado.  Conhecido de todos, era admirado pela liderança à frente do Congado, entretanto, alguns o temiam porque corria a fama de que era conhecedor de bruxarias e magia negra. Tinham eles um filho, chamado Benedito, mais conhecido por Bené declarado inimigo do trabalho. Nessa época, vivia a população dessa pacata cidade sem os perigos da violência urbana de hoje.         
Muros altos, cerca elétrica, câmera de segurança eram meios de proteção impensáveis. As casas ainda possuíam grandes quintais com belas hortas plantadas. Ao fundo, sempre havia um paiol para guardar os utensílios e mantimentos da família. Os quintais eram cercados com cerca de arame farpado. Os mais exigentes os cercavam com cerca de bambu maduro, rachado ao meio, bem alinhado para a durabilidade ser maior. Não podia faltar também, um galinheiro indispensável para garantir a fartura de proteína das famílias.
À tarde, as senhoras sentadas nas cadeiras, à porta das casas, passavam longo tempo, envolvidas em intermináveis conversas até o anoitecer.
 Como a cidade era pequena e pacata, a força de segurança pública era constituída do vaidoso e ingênuo subdelegado Bonifácio e dois atarefados praças, dedicados criadores de passarinhos.
Subitamente, a rotina da cidade foi interrompida por inúmeros roubos realizados durante a noite. A população ficou apavorada. Era uma vez a tranqüilidade do lugar.....
Imediatamente, moradores formaram uma comitiva para ir a delegacia  formalizar uma queixa  ao  subdelegado Bonifácio. Os dias passaram, os roubos continuaram e nada do subdelegado tomar uma atitude digna da importância do caso apresentado. Foi então organizada outra  comissão, de respeitáveis cidadãos, para formalizar outra  queixa, desta vez, ao delegado regional da comarca. Exposto o assunto, perguntou o delegado se os reclamantes tinham algum suspeito para acusar. Todos foram unânimes em acusar o Bené do Laurindo. Bené era notívago. Dormia de dia, mas perambulava pela cidade  toda noite. Não havia dúvida, era ele o ladrão. Então, sem vacilar, dirigiu o delegado até sua mesa de trabalho, assentou, puxou  um bloco de carta que estava na gaveta,  sacou do bolso da camisa branca a caneta Compactor  e foi logo escrevendo:
Senhor Subdelegado Bonifácio, atendendo a respeitável comissão de sua cidade que solicitou e registrou nessa delegacia a queixa de diversos roubos acontecidos aí, por um desocupado e ladrão de galinhas,  ordeno que prenda imediatamente o Bené e guarde sigilo. Passando o bilhete aos reclamantes, pediu que   a intimação fosse entregue ao subdelegado Bonifácio, logo que chegassem. Lendo o bilhete, foi convocada pelo delegado, o restante da força pública do lugar para a  singular missão. Sem muito esforço encontraram o Bené dormindo em casa. Sendo autuado, sem resistência, estava a melindrosa tarefa concluída. Foi a vez do subdelegado sacar sua caneta Bic e num pedaço de papel informar, prontamente, ao delegado da comarca o desfecho da importante missão. Senhor delegado, ordem dada, ordem executada. Bené preso, Sigilo não encontrado.



José Geraldo de Araújo Castro                            Fevereiro de 2012

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