quinta-feira, 29 de março de 2012

MIAN SITU


Mian Situ em seu estúdio em Laguna Beach

MIAN SITU - Vendedor de balão, São Francisco - Óleo sobre tela - 106,68 x 91,44

A arte sempre encontra seus caminhos para se manifestar, e eles se fazem às vezes pela insistência, pelo acaso ou pela paixão. Alguns limites para ela são apenas transtornos temporários, pois para aqueles que já nasceram para servi-la, o caminho sempre se faz. O início de Mian Situ, artista chinês, nascido na província de Guongdong, em 1953, tem um certo drama que parece estar sempre presente na trajetória de muitos outros artistas. No governo de Mao Tse Tung, as informações referentes à outras culturas foram completamente proibidas. Nessa empreitada, muitas bibliotecas foram lacradas e muitas obras de arte ocidentais destruídas. O primeiro contato de Situ com a arte clássica europeia se deu quando um amigo, de posse das chaves de uma grande biblioteca, mostrou a ele; às escondidas; importantes informações, principalmente aquelas à partir do Renascimento italiano. Foi o suficiente para que ele passasse os próximos dois anos reproduzindo e estudando tudo que podia assimilar daquelas referências.

MIAN SITU - Mercado
Óleo sobre tela - 60,96 x 86,36

MIAN SITU - Mãe, criança e o burro
Óleo sobre tela - 60,96 x 76,2

MIAN SITU - Rua de São Francisco com vendedor de brinquedos - Óleo sobre tela

Naturalmente, e como consequência da dedicação dos estudos realizados, ele foi aceito em Gafa, a Academia de Belas Artes de Guangzhou, onde estudou entre os anos de 1972 e 1975, até obter seu bacharelado. Assim como na arte russa, onde uma ligeira tendência para um realismo socialista se manifestava em todas as obras, também na China isso se tornou uma prática oficializada pelo governo. Com influências que vieram; para essas duas escolas; da arte realista ministrada nas escolas de Paris do século XIX, durante muitos anos tornou-se uma regra. Um dos primeiros mestres de Situ em Gafa, foi Guo Shao-Gang, ex-aluno de um artista russo de nome Yuri M. Neprintsev.

MIAN SITU - São Francisco, 18 de abril de 1906 - Óleo sobre tela - 116,84 x 193

MIAN SITU - Carinho
Óleo sobre tela - 76,2 x 60,96

MIAN SITU - Inocência
Óleo sobre tela - 40,6 x 30,48

Em retribuição aos estudos recebidos em Gafa, todo artista privilegiado por lá, cedia serviços à nação chinesa, como também aconteceu com Situ, vindo ele a trabalhar durante 3 anos, produzindo filmes de propaganda. Mas, já em 1978, à convite do próprio governo, ele retorna à Gafa. A morte de Mao acelerou algumas reformas educacionais, o que permitiu à Situ ficar livre para pesquisar melhor o trabalho de mestres modernos de diversas partes do mundo, o que fez com que desenvolvesse, assim, o seu próprio estilo. Dividiu os seus ensinamentos, lecionando na Academia de Guangzhou por 6 anos. Foi nesse período que aproveitou os momentos de folga para desenhar e fotografar os habitantes de aldeias rurais do sudoeste da China. Em várias vilas de Cantão, aprofundou na vida diária e nos costumes de sua gente mais simples.

MIAN SITU - Garimpeiros do Yuba River
Óleo sobre tela - 47132,08 x 119,38 - 2010

MIAN SITU - O neto
Óleo sobre tela - 96,52 x 86,36

MIAN SITU - Crianças da Vila Yao - Óleo sobre tela

As últimas décadas do século XX viram a chegada de vários artistas chineses em solo americano. Situ chegou em 1987 em Los Angeles, mas logo se mudou para o Canadá, vindo morar primeiramente em Vancouver e depois em Toronto. O sucesso logo lhe chegou, vencendo um salão importante em 1995, quando decide então retornar a Los Angeles em 1998, onde reside até hoje. Muitos outros prêmios seguiram a esse e o trabalho de Mian Situ é considerado hoje uma unanimidade. É um dos grandes artistas da atualidade no cenário americano.

MIAN SITU - Um novo começo - Óleo sobre tela - 137,16 x 182,88




PARA SABER MAIS:

sábado, 24 de março de 2012

VICENTE ROMERO

VICENTE ROMERO - Anotações - Pastel - 54 x 65

VICENTE ROMERO - Primeiras luzes da manhã - Pastel - 60 x 73

No século XVI, quando foram desenvolvidos os primeiros bastões de giz pastel; derivados do giz natural para desenho; eles eram obtidos apenas em três cores: branco, preto e vermelho-terracota. Fico imaginando no contentamento de Federico Barocci; um dos primeiros artistas a utilizar essa técnica como manifestação principal de sua arte; se pudesse visualizar quantos matizes e efeitos são conseguidos pelo artista espanhol Vicente Romero Redondo, nos dias atuais.

VICENTE ROMERO - Reflexos - Pastel - 92 x 60

VICENTE ROMERO - Mediterrâneo - Pastel - 100 x 70

Ao se misturar o pigmento em pó com um aglutinante (como por exemplo, água que se ferveu com cevada, formando uma resina ou goma), obtém-se uma pasta, que ao ser modelada em cilindros ou bastões em formato retangular, dá origem ao giz pastel. Ele é geralmente utilizado sobre papel e pode produzir diversos efeitos, desde linhas nítidas e bem definidas até as mais sutis nuances. Usa-se um verniz fixador para que não se solte com facilidade da superfície onde foi fixado. O emolduramento exige uma proteção de vidro. Essa técnica obteve muita popularidade no século XVIII, principalmente com Maurice-Quentin La Tour, que executou retratos extraordinários, e foi praticamente ressuscitada pelos impressionistas. No século XX, o pastel foi ainda somado a outras técnicas como óleo, guache e têmpera.

VICENTE ROMERO - No jardim - Pastel - 65 x 50

VICENTE ROMERO - Garoto - Pastel - 55 x 46

O giz pastel andou meio sumido, sendo restringido mais aos estudos e às salas de desenho. É muito gratificante encontrar artistas que revisitam a utilização dessa técnica, ainda mais com o nível técnico e graciosidade das composições, como faz o Vicente Romero. E ele tem feito isso, apesar de ter sua formação acadêmica quase toda conseguida em cima do óleo. Segundo o próprio Vicente Romero: “é uma técnica mais direta e espontânea, que oferece a oportunidade de uma delicadeza incomparável”.

VICENTE ROMERO - Ao sol - Pastel - 50 x 73

VICENTE ROMERO - Maternidade - Pastel - 46 x 61


Vicente Romero nasceu em Madri, no ano de 1956, e se graduou pela Faculdade de Belas Artes de San Fernando, em Madri, no ano de 1982. Atualmente reside na Costa Brava, onde está desde 1987. Certamente é a luminosidade costeira do Mediterrâneo que tanto influencia para os belos efeitos que consegue em sua obra. Há um romantismo nato que emana de suas figuras, quase sempre plácidas e em poses muito bem equilibradas e elaboradas.

VICENTE ROMERO - Uma pausa na leitura - Pastel - 60 x 70

VICENTE ROMERO - Uma pausa na leitura - Pastel - 60 x 70

PARA SABER MAIS:

segunda-feira, 19 de março de 2012

MORGILLI

MORGILLI - Caminho - Óleo sobre tela - 60 x 80

Abaixo, à esquerda: MORGILLI - Paisagem - Óleo sobre tela - 25 x 40
Abaixo, à direita: MORGILLI - Paisagem - Óleo sobre tela - 30 x 40

 

Luís Cláudio Morgilli, mais conhecido artisticamente como Morgilli, nasceu em 1955.
Artista influente na região de Catanduva, no interior paulista, Morgilli já se tornou escola para muitos artistas de sua região, basta citar nomes importantes de alguns alunos seus como Ronaldo Boner, Zaniboni Rodrigo e Cassiano Pereira.

MORGILLI - Ouro Preto - Óleo sobre tela - 70 x 100

MORGILLI - Costa amalfitana - Óleo sobre tela - 60 x 100

MORGILLI - Toscana, Itália - Óleo sobre tela - 70 x 90

Dentre as muitas qualidades de seu trabalho, há que se ressaltar o desenho justo, e o correto uso das cores e suas tonalidades. Os trabalhos de Morgilli são de uma natureza atemporal, parecem datados em uma época onde todos gostaríamos de estar, e ao mesmo tempo nos expõe a realidade. Suas paisagens são sempre bucólicas, os casarios sempre muito precisos, figuras humanas retratadas com leveza e naturezas mortas sempre muito despojadas. É um artista versátil, cuja amplidão dos temas revela um esforço de artista contemporâneo e as pinceladas seguras de uma artista maduro.

MORGILLI - Ouro Preto - Óleo sobre tela - 70 x 50

MORGILLI - Paraty - Óleo sobre tela - 60 x 80

MORGILLI - Ubatuba - Óleo sobre tela - 40 x 60

Os trabalhos, quase sempre iniciados em uma base siena, nos mostram um arrojo técnico muito bem sedimentado em muitos anos de estrada. Morgilli nos consegue  passar uma sensação de trabalho acadêmico e ao mesmo tempo impressionista, com um traço que se tornou particularmente seu e que o personalizou com propriedade.
É sem dúvida, uma das seguras referências em meio a tantos caminhos que a arte nos oferece atualmente.

MORGILLI - Murano, Itália - Óleo sobre tela - 60 x 80

sexta-feira, 16 de março de 2012

PESCANDO NO MUMBAÇA

JOSÉ ROSÁRIO - Pescando no Mumbaça - Óleo sobre tela - 40 x 100 - 2012

Tenho que confessar que o Ribeirão Mumbaça é mesmo meu tema preferido para pintar, aqui em Dionísio. O mais curioso é que sempre me surpreendo com algum local novo, quando caminho pelas suas margens. Às vezes, um mesmo local se torna completamente modificado depois de alguma enchente, criando a possibilidade de novos cenários.
Essa cena com um pescador foi feita em um local que ainda desconhecia, apesar de ficar bem próximo ao centro da cidade. Alguns trabalhos acabaram se transformando em registros de como o curso d'água era no passado e como se transformaram nos últimos tempos. Assoreamentos, desmatamentos e uma série de atividades humanas vão comprometendo a integridade do leito do rio e a qualidade de suas águas, sem falar que a cidade ainda não possui um sistema de tratamento de efluentes, antes de lança-los ao rio. Mas também já existe um pensamento preservacionista de alguns proprietários em suas margens, no sentido de manterem uma mata ciliar cada vez mais constante. E atitudes assim sempre merecem ser louvadas.

Detalhe 1

Detalhe 2

Detalhe 3

domingo, 11 de março de 2012

UMA ARTE MUITO ESPECIAL

CHRIS OPPERMAN - Brincando na areia
Original pintado com a boca

CHRIS OPPERMAN - Dia na praia
Original pintado com a boca

Chris Opperman

Abro a porta do ateliê. Pela manhã que chega em calma, o sol também faz a primeira visita pelas janelas. Caminho até o som e coloco algo para ouvir. Vou abrindo as janelas uma a uma e um cheiro de brisa visita todo o espaço. Junto ao cavalete, na mesa lateral, a paleta expõe as misturas do trabalho do dia anterior. Limpo a paleta, coloco nova tinta e arrumo a tela no cavalete. Um novo trabalho irá começar!

Parece algo corriqueiro narrar assim o início do meu dia de serviço. E é mesmo! Mas não é assim para muitos outros artistas. Iniciar o dia, no que parece uma rotina para muitos de nós, oferece desafios, muitas vezes difíceis de serem transponíveis.

Moacir Ferraz

MOACIR FERRAZ - Frente ao mar
Original pintado com o pé

MOACIR FERRAZ - Um cantinho em Minas 
Original pintado com o pé

Por não possuírem disponibilidade para o uso das mãos; seja por uma deficiência natural ou por acidente; muitos artistas utilizam a boca e os dedos dos pés para sustentarem seus pincéis. Atividades comuns como colocar as tintas na paleta, arrumar a tela no cavalete e limpar os pincéis, podem oferecer sérios desafios, que são superados com muita determinação e satisfação. A arte permite a oportunidade de nova vida a muitos artistas com algumas deficiências, que encontraram nela um caminho paralelo para seguirem seus dias.

KEITH JANZ - Em Veneza
Original pintado com a boca

KEITH JANZ - Piazza San Marco, Veneza
Original pintado com a boca

Keith Janz

Foi Arnuff Erich Stegmann, um alemão da cidade de Darmstadt, quem fundou, em 1956, a Associação dos Pintores com as Bocas e os Pés. Tendo contraído poliomielite aos 2 anos de idade, Erich explorou seu dom natural para o desenho e pintura e se formou na Escola de Artes e Impressão, em Nuremberg. Sua arte foi considerada subversiva por um bom tempo, principalmente durante a segunda guerra mundial, quando ficou sob ostensiva vigilância dos guardas nazistas. Mas não se deteve e se permitiu viver de seus trabalhos até o fim de seus dias.

MARIUSZ MACZKA - Cavalos no campo - Original pintado com a boca

ALEKSANDER IVANOV - Margaridas - Original pintado com a boca

WEN-YAO HSIAO - Iate clube - Original pintado com a boca

A associação fundada por Erich, que hoje conta com mais de 770 membros, espalhados por mais de 70 países, procura possibilitar a todos os seus membros, ganharem o seu próprio sustento com a venda de seus produtos. Procuram fazer isso por méritos e não por caridade. Uma das políticas da associação é que os trabalhos produzidos por seus associados possam competir em estética com os trabalhos de artistas dito "normais". No Brasil, há 46 artistas cadastrados na associação.

MAIS ALGUNS ARTISTAS

                                                
À esquerda: Daniela Caburro. À direita: Jefferson Luiz Hoffmann

                                                       
À esquerda: Fernado Reis. À direita: Rose Mary Orth

MAIS ALGUNS TRABALHOS

FERNANDO REIS - Favela - Original pintado com o pé

EDWARD BRILL - Por de sol na marina - Original pintado com a boca

LEZELDA DE KLERK - África - Original pintado com a boca

FÉLIX ESPINOZA VARGAS - Colhendo flores - Original pintado com a boca

PARA SABER MAIS: